Parece contraditório que, em um mundo cada vez mais tecnológico, as habilidades pessoais ou sociocomportamentais venham ganhando cada vez mais importância. Mas, se observarmos bem, em processos seletivos nos quais candidatos disputam uma vaga no mercado, as habilidades técnicas ou hard skills são o cartão de entrada, enquanto as habilidades pessoais ou soft skills são a matéria de desempate na escolha do candidato.

Podemos perceber que as soft skills são determinantes não apenas para conquistar o emprego dos sonhos, mas são também essenciais para uma carreira de sucesso.

Ter no currículo diversas graduações, especializações e cursos técnicos, além de um idioma fluente, pode até ajudar para ser chamado para participar de um processo seletivo em uma oportunidade de trabalho; porém, não é mais o suficiente para efetivamente ser selecionado e crescer profissionalmente em um mercado dinâmico e altamente competitivo.

De acordo com um estudo da Universidade de Harvard, 85% do sucesso pessoal e de negócios resultam de soft skills. Já um estudo realizado pelo Linkedin aponta que as soft skills vêm se tornando mais populares e valorizadas no mercado de trabalho graças à automação de tarefas.

A partir do acesso às novas tecnologias do século XXI, como Big Data, Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT), entre outras, as máquinas passaram a realizar tarefas operacionais com muito mais precisão e agilidade do que os humanos. Além disso, com o volume e velocidade de informações processadas e disponibilizadas na web, o conhecimento técnico que hoje é relevante de uma hora para outra pode se tornar obsoleto.

Em um contexto de rápidas transformações que foram aceleradas pelas novas tecnologias digitais e em meio a uma crise sanitária mundial, passamos de um mundo VUCA (termo cunhado pelo exército americano) para um mundo BANI (termo cunhado pelo antropólogo e futurologista norte-americano Jamais Cascio).

O conceito de mundo VUCA (acrônimo em inglês de Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity) surgiu nos anos 1990 para explicar uma nova dinâmica de mundo, que envolvia um cenário de vulnerabilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade de um período pós-Guerra Fria.

Mas, quando ainda estávamos tentando compreender o mundo VUCA com sua nova dinâmica de mudanças e transformações tecnológicas e um universo digital em crescente ascensão, de repente nos encontramos em meio a uma pandemia que parou o mundo com o vírus SARS-CoV-2, fazendo surgir o mundo BANI (acrônimo em inglês de Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible), em que a presença do universo digital se tornou primordial para que o mundo não parasse de vez.

A pandemia da COVID-19 marcou essa passagem de um mundo volátil para um mundo frágil, de um mundo incerto para um mundo ansioso, de um mundo complexo para um mundo não-linear e de um mundo ambíguo para um mundo incompreensível.

Então, mal tínhamos nos adaptado ao mundo VUCA e bem-vindos ao mundo BANI!

Neste novo cenário de vulnerabilidade de um mundo BANI, o diferencial está nas habilidades pessoais ou sociocomportamentais, que são inerentes ao ser humano e que, portanto, as máquinas ainda não conseguem imitar e substituir.

As soft skills ou people skills como, por exemplo, flexibilidade e adaptabilidade, criatividade e inovação, sentimento de urgência e empatia são habilidades que se traduzem na capacidade de agregar valor com a colaboração humana, ou seja, dependem da colaboração humana.

Essas habilidades de interação humana são interdependentes e difíceis de se mensurar, não têm limites como as habilidades técnicas, são desenvolvidas ao longo da trajetória de cada pessoa, portanto, são peculiares e o diferencial em uma carreira de sucesso.

Autora: Andressa Bueno Serigato Meneghelli, professora da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.

Imagem: Christina @ wocintechchat.com on Unsplash

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